Por mais que as empresas tenham total liberalidade para atuarem na inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, as políticas públicas afirmativas são absolutamente indispensáveis para que a inclusão seja plena. Esta é a visão compartilhada pelos participantes do 2º Congresso Reatech de Inclusão e Acessibilidade no Mercado de Trabalho, aberto hoje (4/10), no São Paulo Expo. O evento, que segue até sexta-feira, reúne profissionais ligados à Inclusão, Diversidade, Acessibilidade, Recursos Humanos e Saúde Corporativa em organizações de todo país.
Participaram do painel de abertura “Debate sobre Políticas Governamentais de Inclusão no Mercado de Trabalho e Sua Aplicação de Forma Prática nas Organizações, Renato Pacheco, Cônsul-Geral da Suécia em São Paulo, João Batista, Desembargador do Tribunal Regional do Trabalho de Campinas, José Silvio da Silva Barreto, Conselheiro do Conselho Estadual para Assuntos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo, Flávio Gonzalez, coordenador de Inclusão Social do Instituto Jô Clemente, e Adriano Bandini, especialista em Diversidade, Equidade e Inclusão do Itaú Unibanco. A moderação foi feita por Marcelo Pires, CEO da Consolidar.
O papel fundamental de políticas governamentais na inclusão de pessoas com deficiência foi destacado por Gonzalez ao explicar a metodologia conhecida como Emprego Apoiado, que vem sendo aplicada em diversos países do mundo desde os anos 80 e que depende de suporte de governos para ser executada com qualidade. A premissa dessa metodologia é a de incluir para qualificar, que inverte a lógica mais comum que prega o qualificar para incluir.
“Por muito tempo, as pessoas com deficiência vem sendo qualificadas, mas nunca são adequadamente incluidas”, afirma Gonzalez. Ele explica que, no modelo de Emprego Apoiado, antes as pessoas são avaliadas e compreendidas em sua individualidade para então as empresas serem preparadas para recebê-las.
Bandini destaca que esse modelo tem seus custos e por isso o apoio de ações governamentais se torna indispensável. Ele ilustra falando de projetos nos quais atua, como o que gera inclusão para pessoas com deficiência intelectual. Bandini conta que este é um trabalho que, para ser efetivo, requer um acompanhamento individualizado, com uma frequência que varia de pessoa para pessoa.
“Politica pública é fundamental porque também dá direcionamento para as empresas atuarem no que precisa ser feito”, reforça o especialista em Diversidade, Equidade e Inclusão do Itaú Unibanco. “Leis e regulamentações dão segurança jurídica e ajudam a nortear ações do setor privado.”
Pacheco trouxe para a discussão a visão da responsabilidade compartilhada, que é comum na Suécia. “A responsabilidade do cuidado com as pessoas com deficiência não é só da família. Isso deve ser uma gestão compartilhada por toda a sociedade, incluindo empresas, escolas, governos e instituições.”
Com a experiência prática em assuntos trabalhistas, Batista aponta que as empresas precisam ir além de cumprir a lei simplesmente. “Muitas vezes, vemos que a lei de cotas é cumprida, mas a empresa não se preocupa em desenvolver uma cultura de inclusão. Sem isso, a inclusão não se torna efetiva”, esclarece o desembargador. “A lei de cotas é importante, mas mais importante é construir uma sociedade verdadeiramente inclusiva.”
Nascido com osteogênese imperfeita, doença rara que atinge uma em 20 mil pessoas, Barreto relatou sua trajetória, desde os obstáculos para concluir sua educação formal até o desenvolvimento de sua carreira profissional. Ele destacou a importância de pessoas com deficiência buscarem qualificação e também ocuparem espaços para que sua presença reforce na sociedade a percepção de que são pessoas plenamente capazes. “Quem estava na faculdade tinha que me ver ali na faculdade, quem estava no trabalho tinha que me ver ali no trabalho. É um modo de entenderem que também sou uma pessoa.”